sexta-feira, 23 de março de 2012

As meias palavras do governador



Numa aliança entre uma administração municipal e outra estadual, a pressão eleitoral naturalmente se desloca entre os polos a cada dois anos, em movimento pendular. Em 2008, primeira eleição depois de PT e PSB estarem alojados na Prefeitura de Fortaleza e no Governo do Ceará, respectivamente, Cid Gomes jogou a pressão sobre Luizianne Lins. Ela resistia a aceitar Tin Gomes (PHS) como candidato a vice na busca pela reeleição. Ele recusou-se a apontar outro nome. Enquanto a prefeita não aceitou sua indicação, o governador não entrou na campanha. Como em raras ocasiões em sua trajetória, ela foi obrigada a ceder. Já em 2010, o pleito era estadual e foi Cid quem ficou contra a parede.
De um lado, o PT exigia apoio para eleger José Pimentel senador. Do outro, o PSDB desejava as bênçãos à candidatura de Tasso Jereissati. A ponto de Ciro Gomes mandar o recado de que seu irmão não aceitaria “faca nos peitos” por parte de ninguém. Agora, a pressão volta para o lado petista. Mas, em dois movimentos, Luizianne tentou empurrá-la de volta. Fez já duas sinalizações de que Cid também perderia com o rompimento. Primeiro, ao dizer que José Pimentel é o nome para o caso de rompimento. A opção já contrariaria Cid por fazer de Sérgio Novais senador, no caso de vitória. Ficou pior depois que o petista se desentendeu com o governador. A seguir, veio o anúncio pela prefeita de que, sem acordo, o caminho do partido será a oposição ao governo. Ela assegurou que não foi ameaça. “O que disse não tem o sentido de tensionar, como, infelizmente, tem gente que trabalha e tem o vício de promover a desgraça para lucrar com ela”, disse Luizianne. Ainda assim, foram dois sinais para o aliado de quão ruim para ele seria o fim da parceria. Intencional ou não, Cid demonstrou ontem que recebeu os movimentos como ameaças, sim. “Chantagem”, em suas palavras. Não se referiu diretamente à prefeita e, questionado pelo repórter Pedro Alves, do O POVO, negou-se peremptoriamente a apontar o destinatário da mensagem. Mas, para bom entendedor...
A tensão na aliança é maior que nunca.
 
ASSUNTO BOBO PODE INFLUENCIAR COISA MUITO MAIS SÉRIA
Quem acompanha as articulações no Congresso Nacional pode ser levado a pensar que a coisa mais importante que se discute neste País é a liberação ou não da venda de bebidas durante jogos da Copa do Mundo. O debate é uma bobagem sem tamanho. Trata-se da revogação temporária de uma lei que não deu certo em momento algum Mas essa polêmica pode ter reflexos muito mais relevantes que a competição de futebol. A votação é usada por essa base sem vergonha – a mesma em que todos os governos desde a redemocratização se escoram – para chantagear o Palácio do Planalto num assunto incomparavelmente mais relevante: o Código Florestal. O texto aprovado na Câmara no ano passado foi na contramão do mundo. Enquanto todas as diretrizes internacionais vão no sentido de aumentar a proteção ao meio ambiente, o Brasil quer reduzi-la. No Senado, houve ligeira melhora na proposta, embora o teor permaneça muito ruim. Mas o lobby ruralista na Câmara pretende, mesmo assim, retomar a versão anterior. E aproveita-se, para tal, do momento em que a sustentação política do governo está depauperada.

A VENDA DAS BEBIDAS
Como bem destacou Fábio Campos, dia desses, aqui no O POVO, a questão do álcool durante a Copa não é de soberania. A Fifa não pediu para o Brasil realizar a Copa. Foi o País que se candidatou. E o Poder Executivo – de forma soberana – assumiu os compromissos, dentre os quais o de liberar a venda de bebidas.
Nesse particular, o ex-presidente Lula avançou o sinal. Ele não podia prometer mudar a lei. No máximo, seu compromisso poderia ser o de enviar tal proposta e jogar todo seu peso político na aprovação no Legislativo. Pode parecer quase a mesma coisa, mas, em tempos de hipertrofia dos governos e atrofia dos parlamentos, é importante lembrar que não são. O Congresso Nacional não pode ser cobrado por compromisso assumido por outro poder. Mas o governo brasileiro teria, sim, obrigação de manter sua proposta segundo acordado com a entidade que comanda o futebol mundial. O Palácio do Planalto fechou acordo em torno de uma proposta meio malandra, que não libera explicitamente o comércio de álcool e joga o problema para os estados. Essa postura não é correta. O próprio relator, deputado petista Vicente Cândido, ficou contrariado.
 
A LUTA POR UMA LEI FRACASSADA
Mas não apenas por isso o assunto é quase irrelevante. O que se propõe é a suspensão, durante um mês, de uma lei que não funciona. O motivo para se tentar proibir o comércio de álcool em praças esportivas era para coibir a violência. Mas, desde antes, as brigas entre torcidas já não eram problema no local de jogo, mas, principalmente, do lado de fora. Onde, aliás, bebidas estão à venda,. Mas não por isso a violência se dá. O real motivo é que há bandidos infiltrados nas torcidas, para os quais o futebol vira mero pretexto para guerra entre gangues. O ingrediente adicional é a relação doentia e irracional que alguns estabelecem com o futebol. A bebida pode até servir de estímulo, mas não é a essência do problema. Pode-se ser contra ou a favor da liberação, mas o fracasso da iniciativa, até hoje, é inconteste.



Postada:Gomes Silveira
Fonte:O Povo

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