sábado, 3 de março de 2012

Problema para o candidato do PT


Os governantes e a população normalmente observam a administração de perspectivas bem distintas. Quem está no poder, como não deixa de ser natural, analisa a própria gestão a partir daquilo que realiza: as obras que constrói, o dinheiro que investe, as inaugurações que promove. Para o povo, o ponto de vista é outro. Mais importante que a quantidade de realizações ou a quantidade do dinheiro aplicado é o resultado prático disso na vida cotidiana. Construir uma bonita escola não é sinônimo de garantir bom nível de educação.
Gastar muito dinheiro não significa serviço de qualidade. Políticos raramente entendem o porquê de trabalharem muito e nem sempre serem reconhecidos. Não percebem que uma coisa não estará relacionada à outra se o produto de todo esse esforço não for satisfatório. Por tal razão, há mais de década especialistas da área discutem a chamada “gestão por resultado” – modelo de gerenciamento voltado para a avaliação objetiva dos ganhos concretos obtidos. É essa efetivação da ação governamental que, de fato, interessa à população. Nesse critério, o candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza terá de se rebolar para explicar alguns indicadores sobre as duas áreas mais importantes de uma administração municipal. A cidade, administrada pelo partido há sete anos e dois meses, já havia acumulado desempenhos péssimos nas avaliações sobre a qualidade da educação. Agora, sai-se muito mal em relação ao atendimento do Sistema Único de Saúde. No caso do SUS, a atribuição não é exclusiva do Município, mas é a Prefeitura a principal responsável por coordenar o processo no âmbito local. O desempenho nessas áreas é algo muito caro ao eleitor petista. Aquele que for escondido para representar a continuidade da gestão Luizianne Lins terá de gastar retórica para explicar as estatísticas.

VIAGENS E PROBLEMAS
Impressiona a capacidade da Prefeitura de Fortaleza de transformar assuntos bobos em crises. Quando envolve viagem de Luizianne Lins, nem se fala. Raramente a prefeita se ausenta do País sem deixar para trás uma confusão política. Custava ter mandado um papel para a Câmara Municipal informando sobre a ausência?
OS HUMORES NA OPOSIÇÃO
Pelo Twitter, o vereador Marcelo Mendes (PTC) informou à coluna que assinou requerimento que pedia mudança na liderança oposicionista na Câmara Municipal porque é favorável ao novo modelo, mais democrático. “Mas nunca organizei (movimento) ou quis ser líder na Casa”, ponderou. E acrescentou: “Liderança me foi várias vezes oferecida desde 2008 e nunca me senti à vontade para aceitá-la”.

Não é nada bom o clima na oposição municipal. Embora haja um líder formal, e antes tenha havido outros, não existe unidade e nenhum dos parlamentares tem ascendência sobre os demais, tampouco condições de coordenar o trabalho conjunto.

A situação não chega a ser surpreendente. Não há perspectiva de os partidos não-alinhados com o Poder Executivo se unirem contra o candidato do PT. Desse modo, a tendência é de que seja mesmo cada um por si.

O PROBLEMA ESTÁ VIVO
Os alicerces da economia brasileira foram fundados no trabalho escravo e essa situação se reflete no Brasil de hoje. Para cada ano de história sem escravidão, o País teve três sob a égide do regime. O Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) mostra o quão presente é essa chaga do passado. A renda média da população negra é quase a metade do que ganham os brancos. O índice de escolaridade também destoa. A questão não é apenas de classe. Todos os indicadores relacionados mostram que, na comparação entre brancos pobres e negros na mesma condição, o segundo grupo também tem renda pior e menor escolaridade. O problema está presente porque gerações se recusaram a fazer qualquer coisa. Ao libertar os escravos, o governo brasileiro não adotou política alguma para incluir essa população. Mais de um século depois, surgiu o modelo de cotas. Ele é imperfeito, parcial e não resolve os problemas sem criar outros tantos. Mas é o que de mais consistente se propôs fazer até hoje. A questão que se coloca aos brasileiros é: se não forem as cotas, quais serão as políticas para superar as desigualdades? Permanecer sem fazer nada deixou de ser uma opção há muito tempo. A mesma negligência em relação á necessidade de superar as desigualdades se percebe na questão regional. O Brasil não pode ter políticas de desenvolvimento genéricas, diante do princípio de que todos devem ter condições similares para crescer. Também há séculos que são necessárias ações coordenadas para superar o desnível entre Norte e Nordeste e as demais regiões. Os contrastes, em ambos os casos, ocorrem para o prejuízo de todos.

A melhor imagem é expressa pela jornalista Miriam Leitão: o Brasil avança como uma escavadeira, ao carregar o entulho do seu passado. Ele está vivo e nos assombra.






Postada:Gomes Silveira
Fonte:O Povo

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