terça-feira, 27 de março de 2012

Eleições proporcionais - Estratégias para disputar a CMFor


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Clésio Arruda lembra que, durante a disputa, os candidatos a vereador estão buscando votos para si e não necessariamente para o partido 
 
Resultados da Capital mostram que lançar candidato a prefeito nem sempre ajuda na disputa ao Legislativo

Embora os políticos costumem defender que lançar candidatura própria à prefeito melhora o desempenho do partido na disputa ao Legislativo, os resultados das últimas eleições na Capital mostram que isso nem sempre acontece. No pleito de 2008, por exemplo, dos 12 partidos que elegeram mais de um vereador, apenas quatro disputaram a Prefeitura de Fortaleza. Ao todo, a eleição contabilizou nove candidatos a prefeito, sendo que duas das siglas desses postulantes não elegeram vereadores.

Cientistas políticos analisam que a candidatura majoritária pode ajudar no sentido de dar maior visibilidade aos candidatos proporcionais, mas salientam que isso não é determinante para o resultado na Câmara. Isso porque as eleições municipais teriam característica diferenciada, de maneira que a estratégia adotada pelos candidatos é muito mais particular do que partidária. Outro fator diz respeito à tradição do voto no Brasil ser personalista e não partidário.

O professor de Sociologia Política da Universidade de Fortaleza, Clésio Arruda, lembra que são vários os fatores que podem determinar o resultado eleitoral. Para ele, a candidatura majoritária não representa o êxito da sigla na disputa proporcional porque há uma tradição no Brasil do voto personalista, isto é, o eleitor vota muito mais pela figura da pessoa do que pela ideologia.

Além disso, Clésio Arruda aponta que, apesar das coligações e mesmo das parcerias entre candidatos e cabos eleitorais, a soma dos votos válidos dos parlamentares costuma ser diferente da soma dos votos do candidato a prefeito porque os postulantes estão buscando votos para si, e não necessariamente para o partido. "Há muito a conquista do voto do vereador desvinculado ao voto a prefeito", considera.

Espaço

Conforme o professor, a candidatura majoritária, dependendo das coligações feitas, pode representar um tempo razoável na propaganda eleitoral na televisão, mantendo a legenda na mídia e abrindo espaço para que os candidatos a vereador apresentem suas propostas. "Pensando nisso, aí a gente tem uma contribuição para os candidatos a vereadores", opina.

Clésio Arruda salienta ainda que vários partidos pequenos, embora não tenham reais chances de vitória, costumam lançar candidato a prefeito em busca de maior visibilidade para disputar à Câmara Municipal. "Hoje, quem faz melhor arco de aliança em termos de densidade eleitoral tende a ter maior tempo de propaganda. E aí há possibilidade de fazer maior número de vereadores do que aliado a legendas mais frágeis", analisa.

Já o cientista político Francisco Moreira acredita que o êxito dos partidos na disputa ao Legislativo tem mais relação com a estrutura que os candidatos dispõem do que com o fato de a sigla lançar candidato a prefeito. Conforme explica, a eleição municipal têm característica diferenciada, e a estratégia adotada não é partidária, mas particular.

"É totalmente diferente das eleições gerais, em que os partidos dependem das estruturas montadas no Interior. Essa eleição agora (deste ano) tem reflexo no que vai acontecer daqui a dois anos, porque boa parte das estratégias são base para a próxima eleição", declara.

Segundo o professor, o candidato a vereador costuma montar sua própria estratégia eleitoral. "São os candidatos a vereador que montam estrutura nos bairros, com cabos eleitorais. Às vezes, colocam pequenos candidatos para garantir os votos de legenda", explica, ponderando que, para compreender o processo eleitoral na Capital, é preciso um estudo mais aprofundado.

Francisco Moreira afirma ainda que é raro que as maiores bancadas de vereadores sejam de partidos que apresentaram candidatura majoritária, mas lembra que essas siglas podem estar coligadas, o que pode favorecer na disputa. Segundo ele, alguns partidos pequenos adotam a estratégia de concorrer em blocos, dispondo de um número determinado de candidatos com possibilidades reais de vencer.

"São os que investem, que já têm trabalho mais significativo e estrutura pessoal para, além do partido, garantir suas eleições. Eles têm determinado número de candidatos que funcionam como arrecadadores de votos", explica Francisco Moreira.

Fator

Essa estratégia pode ser um fator para o resultado das últimas eleições em Fortaleza. Dados das eleições de 2004 e de 2008 revelam que partidos menores têm procurado se coligar em busca de vagas no Legislativo. No pleito de 2004, foram registradas cinco coligações proporcionais e 18 partidos conseguiram vaga na Câmara. Em 2008, foram sete coligações, e as cadeiras da Casa foram distribuídas entre representantes de 22 siglas.

O problema é que, muitas vezes, a aliança entre os partidos não é mantida após o pleito. São vários os vereadores que tomam posições divergentes e assumem projetos políticos diferentes ao assumirem seus mandatos. "Isso é uma complicação. Demonstra a inexistência de partidos políticos, que não funcionam como tal", analisa Francisco Moreira.

Posições

Segundo explica o professor, como os vereadores se elegem às custas de estrutura pessoal, a influência dos partidos é pequena. "Então o partido inexiste para a grande maioria dos candidatos, que, como vereador, não se sente obrigado. Mas não se pode generalizar, embora a maioria sinta essa liberdade para tomar posições diferentes", declara.

O professor Clésio Arruda concorda e atribui a questão aos desvios no sistema político, acreditando que a falta de amarras faz com que os políticos, de um modo geral, levantem bandeiras que posteriormente não são defendidas por eles. "Prevalecem os interesses particulares e não a posição ideológica. A gente tem tido isso: coligações feitas para manter grupos no poder e não para fazer planos de exercício no poder. E aí a briga vai ser por cargos", declara.

No Congresso, tramita dentro do pacote da Reforma Política uma PEC que acaba com as coligações na eleição proporcional.






Postada:Gomes Silveira
Fonte:Diário do Nordeste

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